segunda-feira, 12 de maio de 2008

Caso 2

Uma série de acontecimentos descontínuos ocorridos nos anos 60 e que foram relembrados a partir da fotografia, são casos que ficaram na memória coletiva dessa “turma”. A graça fica para os que conviveram de perto.

(Pedrão — Pedro Luiz Sampaio Pinto); (Sábia— Enderson Giavanetti); (Pergola—Sergio Augusto Chaves Pergola) e (Salin—Armando Capobianco)>

O Tonico começa lembrando, em seguida o Erio e o Dago relatam:

Tem uma história do Pedrão com o Sabiá- a da espingarda que foi parar na delegacia de polícia. Também a história daquele negro que vendia calça Lee, que nós apelidamos de Lee.
É antológica. É Sabiá. Eu diria para você, o Sabiá é a personagem mais rica dessa turma.
É multifacetário, é o sujeito que atua... em qualquer tempo, ele chora se precisar chorar, ele ri.... é multifacetário.
Ele ri... ao ponto de perder o controle da risada... ele perde o controle.
A espingarda está ligada a aquele vendedor de calça Lee, o Lew.
Esse Lew trazia calça Lee. Se vivia a loucura da calça Lee que desbotava. Se vivia a loucura que o Celsinho defendia. A da calça Lee branca e da que não desbotava.
Uma das formas de se diferenciar...
O Erio teve uma Lee que esticava.
“Strach”. A diferença disso estava na pestana, se fosse rebatida não desbotava, se não tivesse pestana, costura de cós comum, desbotava. As brancas tinham duas: a de costura comum que não tinha valor, era meio amarelada e a de costura batida que cada vez ficava mais branca, pois o tecido era liso, acetinado, uma delicadeza. Então este cara [o Lew]... Em um momento em que se falava: vamos ao Capitão em Santos comprar calça Lee. Era um importador, um contrabandista, ali na ponta da praia.
Contrabandista em que o Pergóla sempre ia. Ficava na ponta da praia, em um terreno cheio de mato. Você entrava, ficava lá no fundo.
O gozado era o termo que se usava para esses locais de contrabando: eu estou com uma boca de calça Lee, tenho uma boca de calça Lee.
E se guardava segredo hem? Vai contar a boca... Ah! Vai contar a boca para os outros. E fomos surpreendidos em determinado dia, com um destes bandidos bem na nossa porta e com que facilidade: O que vocês querem? A branca, a azul..., anotando os pedidos. Fazendo amizade levando discos do Salim.
O Salim fez uma troca, calças Lee por LPs, o Salim abriu a caixa onde estavam os LPs, e mostrou pro Lew. O Lew foi abrindo e o Salim: quanto vale uma calça Lee, é, eu não sei, dois... ou três (lentamente).
Ao contrário, ele falou em primeiro lugar uns números maiores, quantos você vai querer quatro ou três e foi diminuindo.
Nós não sabíamos que era um golpe, ele entregou os discos em troca de uma entrega futura de calça Lee.
Pois bem, o Pedrão entregou uma espingarda que ele tinha, como pagamento.
Essas calças nunca vieram.
Esse cara sumiu, deu um golpe, levou a espingarda do Pedrão, levou os LPs do Salim. Passado um tempo... o Pedrão, deu queixa desse cara.
Foi á Delegacia de Polícia.
Fez um B.O. , bem, o Sabiá foi junto como testemunha.
Passaram-se dois anos ou três anos brincando, brincando. Um dia o Pedrão é intimado a comparecer na chefatura de polícia junto com o Seu Sabiá, que na época era conhecido como Careca ou Pestana.
Tínhamos 17 ou 18 anos.
Os dois foram convocados para ir à Delegacia. Chega lá, na frente do Delegado uma porrada de produtos de furto. Material roubado atrás da mesa do Delegado. O Delegado pega uma espingarda (gestos e fala lenta) (pausa).

O Delegado, obviamente em uma linguagem policialesca e portanto em uma linguagem que oprime quem não está acostumado a ouvir, e é por isso que se confessa o que fez e o que não se fez, pegou uma espingarda de trás de onde estava sentado, pôs na frente do Sabiá e do Pedrão, e perguntou de supetão para a testemunha, no caso o Sabiá (pausa): é essa a espingarda que roubaram (falando em tom mais alto)? O Pedrão ali na expectativa. O Sabiá pega a espingarda na mão examina, olha, devolve e diz: Não!
E era.
O Pedrão vira e fala: mas Pestana é ela, é a minha. O Delegado, não e não, ele negou, podem ir embora. Podem ir embora vocês estão sendo dispensados, pegamos o ladrão errado. E era a espingarda. Aí, vem a explicação do Sabiá: pensei que fosse uma pegadinha, que a espingarda fosse outra, que ele estivesse testando minha honestidade. Isso é o Pestana e Careca. Não é ainda Sabiá na época.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Minha divida com Sidão

Depois que li "Esquina 65" - grande obra do Sidão, pelo seu grande esforço e efeito catalizador de reunir a todos nós, jovens protagonistas de uma época em um lugar - vieram-me lembranças da infância e juventude. Prometi ao Sidão que iria enviar-lhe essas memórias e observações, embora refiram-se muito particularmente às minhas lembranças. Estou amadurecendo a idéia de colocá-las neste Blogger. Se esta postagem der certo como teste, o fato estará mais proximo de vir a ocorrer.
Pagarei esta dívida ao Sidão, como sempre fiz, e por isso, felizmente, não devo nada a ninguem, à exceção do fisco, esse insaciavel devorador das minhas parcas economias.